Próxima parada

Era noite e estava andando na rua, quando um moço, com seus 30 e poucos anos, chinelo, camisa e bermuda, veio me perguntar se dava pra ir a pé pra rodoviária de onde estávamos. Falei que dava, era um pouco longe, mas dava. Ele agradeceu com o rosto de quem olha mas não vê, muito cansado, suado, e foi indo. Virei e chamei: “Meu ônibus passa lá perto, você não quer ir junto?” Quando chegamos no ponto, ele abriu a mochila e tirou uma bíblia. Leu um trecho em voz baixa. Perguntei se estava com fome e pegamos o que tinha perto: cachorro-quente, que ele ficou segurando em uma das mãos, sem comer.

Com a carteira de identidade amassada na outra mão, me falou que estava indo pra Brasília. Ficou sabendo que lá existe um serviço público que dá passagem de graça pra quem não tem dinheiro. Mas seu destino, mesmo, era São Paulo. “Vou pra rodoviária hoje só pra dormir lá esta noite. Amanhã, vou pra estrada pedir carona pra Brasília”.

Já dentro do ônibus, indo pra rodoviária, contou que sua mãe morreu há 3 anos. O pai está em Ilhéus, onde ele nasceu e de onde vinha, de carona em carona, até chegar em BH. Falei que, se não se importasse, compraria uma passagem pra aquela noite, pra que não precisasse ir até Brasília, e perguntei o que ia fazer em São Paulo. “Quero ir encontrar meu irmão. Vou voltar a trabalhar com ele, ele é pedreiro profissional lá”. Às 22 horas, vi o rapaz embarcando. Pouco antes, me falou, ainda, que já havia vivido uns tempos na cidade pra onde estava indo. Gostava: “São Paulo é a minha vida”, disse. É a vida de José Francisco dos Santos.

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