Conheci Daniela na sexta à noite. De cabelo grande, mas preso, com um rosto muito branco e de marcas de espinhas. Ela era a atendente do boteco, quem dava sorriso pros clientes bêbados que vinham pedir no balcão mais uma cerveja.
A primeira vez vi só uma mulher naquele corpo grande, de camisa branca, calça jeans e de olhos atentos aos pedidos da madrugada. Depois, percebi que a moça, mesmo no curto espaço que a separava do balcão ao freezer das cervejas, puxava uma perna.
Daniela anda com dificuldade. Mais pro fim da noite, olhei quando ela saiu de trás do balcão e foi recolher as cadeiras da mesa última que ainda estava na calçada do bar. Um grupo de homens conversava sobre um filme/série. Estavam alegres e com muitas cervejas dentro. Passei por eles e fui ter com a Daniela.
Você machucou a perna? Perguntei. Com dor, ela disse que está com um problema num tendão, “mas que ainda não teve tempo de olhar”. Falou que ficou 2 meses sem doer, mas que naquela noite, em que trabalhava desde 18 horas, voltava a doer. E muito.
Ela recolheu as cadeiras. Levou duas de uma vez só. Com o mesmo sorriso que recebeu a gente quando chegamos. Antes que ela voltasse, recolhi a mesa de plástico e levei pra dentro do bar.
A última mesa de plástico.
A última vez que conversei com Daniela foi muito rápido, quando paguei a conta – olhei mais para o rosto dela. Aquela mulher era uma menina, esse rosto de espinhas e essa madrugada tão fria.
Ai, Daniela, a sua solidão me dói.